Conceitos estranhos…

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Não tenho por hábito aplicar críticas duras a colegas de profissão, especialmente em um espaço como esse, e sendo os colegas em questão profissionais de gabarito e respeito. Para não ser hipócrita, já critiquei muita coisa no meu blog, mas cada espaço tem suas regras, e não acho diplomático falar mal do trabalho alheio aqui, em especial dentro do meu mercado, o qual conheço o “lado negro” e sei como as coisas funcionam.

Entretanto, me foi solicitada a opinião sobre a nova campanha da Bombril. Assisti as peças de televisão um tanto incrédula com a esperteza dos criadores em colocar, como sempre, a mulher diante do tanque e do fogão e conseguir, mesmo assim, o apoio das feministas mais radicais, sem se darem conta que a campanha é tão ou mais machista do que qualquer outra que explore dessa forma a natureza feminina.

Como? Simples: por mais que ela tenha em si um deboche aos homens, com insultos como “homem das cavernas” e “cachorro”, ela traz basicamente mulheres que não trabalham fora, “do lar” como sempre foram tratadas em comerciais do gênero. Então qual é a novidade? Bom, nesse caso a marca fala de mulheres evoluídas e coloca como interlocutoras mulheres supostamente fortes; o interessante é como a campanha mostra essa força: fantasiando as apresentadoras com roupas tipicamente masculinas e colocando-as falando grosso.

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Aliás, nesse ponto entra algo que considero mais uma gafe coletiva do que algo realmente ofensivo; no comercial intitulado “Inveja”, a apresentadora critica homens de brinco ou outros acessórios femininos, e o nome da peça deixa claro que ela julga tais homens invejosos. Ok, até aí tudo bem, tá cheio de gente incapaz de respeitar o estilo pessoal de cada um, mas… por que diabos a mulher que critica homens de brincos está trajando terno e gravata? Caramba, criadores! É muito mais fácil encontrar um homem de brinco do que uma mulher de gravata na rua!

Então é isso? Mulheres evoluídas imitam homens mas seguem diante do fogão e do tanque? Mulheres evoluídas escolhem muito mal os maridos? Mulheres evoluídas fazem a velha piadinha de que não precisam de homem para nada e se precisarem abrir o vidro de palmito chamam o vizinho (um homem, no caso, o que nos leva a crer que o problema é somente o marido, o que é estranho considerando que existe divórcio)? Mulheres evoluídas ainda estão presas em casa mantendo o lar limpo e a comida na mesa para marido e filhos?

Então, homens, embora o comercial fale mal de vocês, relaxem, a mensagem dele é muito melhor para vocês do que para nós, afinal, segundo a linguagem não verbal nele, só serei uma mulher evoluída se for sustentada por um marido troglodita, vestir terno e gravata e falar grosso. Então sinto muito, Bombril, prefiro seguir sendo uma mulher não evoluída: trabalhar fora, ter voz fina, me vestir com roupas femininas e conservar meu toque de romantismo procurando por um homem que me faça feliz.

Claro, entendo que muitas mulheres apoiam a campanha como uma resposta aos muitos e muitos intervalos comerciais que tiveram que aturar com mulheres semi-nuas, transformadas em bonecas infláveis de carne e osso e vendendo cerveja através da exploração dos hormônios masculinos, só que masculinizar a mulher não a torna mais digna, só menos feminina, o que esvazia toda essa resposta tão supostamente aguardada.

Mas acima de tudo, talvez esteja na hora de parar com essa guerrinha patética dos sexos; homens precisam de mulheres e mulheres precisam de homens, e não me refiro somente aos relacionamentos amorosos, mas ao equilíbrio. O mundo é feito por ambos os sexos, porque antes de sermos homens e mulheres, somos pessoas; pena que esse conceito tão simples parece tão difícil de entender.

Enfim, só para constar, o comercial é uma grande piada; sem graça para muita gente, o que me inclui, mas uma piada, e deve ser encarada como tal. Reações exageradas de indignação de qualquer parte são tão descabidas quanto a defesa errônea das mulheres promovida pela campanha.

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Maya Falks

Maya Falks é escritora, publicitária e roteirista. Contista premiada, é editora de blog homônimo e apaixonada por literatura, música, cinema e propaganda, sendo devotada às palavras em suas mais diversas manifestações.

Contato: maya.tribos@gmail.com

Blog: www.mayafalks.blogspot.com

 

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1 comentário

  • Acho que a idéia foi interessante, a intertextualidade que houve na campanha. Machismo nas entrelinhas? Bom, dai depende da forma como vc vê a proposta.

    Eu gostei. Inovou, aproveitou stand up. Fez críticas, causou impacto.

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