Primeiro mundo?!

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Um homem de 29 anos é morto pela polícia e isso provoca dias e dias de ataques violentíssimos nas ruas, saques a lojas, destruição, caos e mais mortes. Quem lê um resumo desses presume que essa selvageria toda aconteceu em algum país pobre, onde tudo é desculpa para o retorno ao estado primitivo. Mas não, estamos falando de um país de primeiro mundo, inclusive o país cuja população ostenta a fama de mais polida do mundo, estamos falando da Inglaterra.

No Brasil, país de terceiro mundo, reconhecidamente violento com um dos crimes organizados mais brutais do mundo, não é raro se ter notícias de um cidadão inocente que foi morto pela polícia, algumas vezes por preconceito devido à sua situação socioeconômica, algumas vezes por engano mesmo, mas em nossas terras tupiniquins nunca se viu algo semelhante aos dias de terror absoluto vividos pelos ingleses.

Temos nossos problemas, temos muitos selvagens e bandidos vivendo “pacificamente” entre os bons cidadãos só esperando o momento certo para revelarem sua face primitiva. Já tivemos protestos violentos, já testemunhamos ações extremas, mas jamais na mesma proporção do que testemunhamos pela televisão e pela internet. Inclusive, nossa pior onda de caos e violência, ocorrida alguns anos atrás em São Paulo, foi uma ação criminosa de bandidos, e não de pessoas comuns “protestando” por alguma coisa.

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E então um homem de 29 anos é morto pela polícia e centenas de jovens encapuzados, em protesto, destroem patrimônios, arruínam a fonte de sustento de famílias inteiras através do vandalismo e do saque a pequenos comerciantes, entopem seus armários de artigos pelos quais não pagaram. Isso é protesto? Isso é realmente uma forma de abraçar uma causa e mostrar indignação? Não, isso é selvageria, é estupidez, é ladroagem, é crime! Isso tudo sem contar que o “protesto” desses jovens resultou em mais mortes. Isso tudo sem contar que sou capaz de apostar que nem um terço deles fazia ideia do motivo da violência, estava apenas aproveitando o momento para mostrar todo seu potencial destrutivo.

Em meio ao caos uma mulher de 45 anos, deficiente física (ou ferida) parou diante de um grupo de jovens que poderia, em sua fúria, transformá-la em mais uma vítima, e esbravejou a grande verdade, calando jovens até então presos na sua arrogância de achar que ter a vida inteira pela frente os coloca acima da lei, e expõe que estavam eles desperdiçando a energia que tem para fazer um mundo melhor em atos de brutalidade, que havia virado somente mais um bando de ladrões sujos e imorais, que trocavam sua causa por tênis, roupas e eletrônicos roubados de pessoas que eram tão inocentes quanto o homem morto.

Ao fim do caos as redes sociais viraram o veículo para unir as pessoas de bem, porque elas existem, para limpar as cidades atingidas, para recomeçar e tentar levar a vida como era antes, mesmo que certas marcas jamais possam ser apagadas. É nessas horas que percebemos que os desastres naturais, embora poderosos, ainda ficam para trás do ímpeto cruel e selvagem do homem. É nessas horas que percebemos que, embora tanta coisa tente nos provar o contrário, ainda existem pessoas dotadas de bondade e bom senso para estender a mão a um estranho e ajudá-lo a recomeçar.

O caos foi na Inglaterra, mas nenhuma parte do mundo está livre de vivenciar tamanho absurdo. Que sirva a reflexão sobre as causas que resolvemos defender: estamos mesmo lutando por algo maior ou somente aproveitando a bagunça por um pouco de diversão? Abrace uma causa, mas jamais a use de justificativa para qualquer um de seus atos. Cada um é responsável pelo que faz.

Maya Falks é escritora, publicitária e roteirista. Contista premiada, é editora de blog homônimo e apaixonada por literatura, música, cinema e propaganda, sendo devotada às palavras em suas mais diversas manifestações.

Contato: maya.tribos@gmail.com

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Blog: www.mayafalks.blogspot.com

 

 

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