Armadilhas virtuais

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Embora o nome possa fazer parecer que vou falar dos já conhecidos golpes virtuais, não é esse o tema da coluna. Quadrilhas especializadas transformam a vida do internauta em um inferno; vírus elaborados roubam senhas, acabam com discos rígidos e geram uma dor de cabeça sem tamanho. Sim, esse certamente seria um tema relevante a ser tratado por aqui, mas grande parte desses golpes só funcionam porque as pessoas se deixam enganar. Links com vídeos de sexo de famosos ou imagens inéditas de tragédias enviadas por e-mail são as iscas, e é chocante que alguém ainda clique neles.

Exatamente por isso que eu, no auge da minha revolta, me recuso a lamentar por quem tem grandes problemas fruto de sua própria curiosidade misturada com uma boa dose de ingenuidade, e acreditem, não era essa a palavra que eu pretendia usar. Claro que nem toda vítima de golpe virtual caiu nas garras dessas quadrilhas por culpa de seus próprios atos; muita gente consciente acaba se vitimando por outros meios, e por esses eu lamento.

Entretanto, e enfim me focando no texto, o tema que pretendo tratar são as mentiras que tomam proporções inesperadas online. Recentemente um apresentador foi anunciado morto em redes sociais e a mentira se tornou tão realista que a própria emissora confirmou a notícia – o que é chocante pensar que uma emissora confirma notícias sem ir à fonte confiável, somente através do que se diz online. Até aí confesso que nunca dei muita bola pra esse tipo de boato… até a semana passada.

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Sou integrante ativa do fã-clube da banda gaúcha Reação em Cadeia, tenho um grupo de amigos dentro do fã-clube com quem viajo para os mais diversos lugares para acompanhar todos os shows que o tempo, a verba e a distância me permitem; com isso, acabei, como todos do grupo, me tornando amiga dos membros da banda, com quem já dividi segredos, alegrias e tristezas. E como celebridades, eles não estão livres das fofocas e mentiras que se espalham como pólvora nas redes sociais. E foi exatamente o que aconteceu.

Semana passada, ao abrir meu twitter, me deparei com a alarmante notícia de que o baterista da banda, um rapaz por quem tenho imenso carinho, havia se acidentado de carro. Em poucos minutos, não apenas eu e meus amigos mais próximos, mas fãs de todo o país buscavam notícias transtornados com a possibilidade de a tragédia se confirmar.

Ficamos todos algumas horas em busca de informações; ligações, janelas de MSN, angústia e suposições foram realidade para nós, que ainda fomos o ponto de referência para fãs mais distantes, que buscavam em nós, os mais próximos, enfim, o alívio de todo o transtorno causado por aquilo que poderia parecer uma simples mentira, mas que virou muito mais do que isso.

Os boatos foram desmentidos pelo mesmo meio em que foram propagados; o baterista da banda não sofreu acidente algum e está tão bem quanto sempre esteve, e isso foi realmente um grande alívio. Porém, não por muito tempo. Independente de quem será a vítima, mentiras contadas na internet continuarão a existir, outros artistas ficarão sabendo de sua morte pelas redes sociais, outras assessorias de imprensa correrão feito loucas em busca de informações e para amenizar os efeitos da mentira, outros fãs sentirão na pele o que eu e meus amigos sentimos semana passada.

Mesmo que eu condene veementemente o fanatismo, ele existe, e essa mentiras estúpidas e sem fundamentos podem ainda gerar tragédias reais na vida real. Não é tão raro encontrar um fã que coloca em seu ídolo a própria razão de viver, e a impulsividade pode levar um fã desses a tomar decisões erradas diante da notícia de morte do seu ídolo.

Não chega a ser um problema social, ou pelo menos ainda não, mas não custa dar um alerta. Sei bem como me senti na mentira que envolveu o baterista da minha banda favorita, e não foi legal, por isso considero relevante questionar o que leva um sujeito a espalhar uma mentira descabida e perigosa em redes sociais. Necessidade de atenção? Carência afetiva? Estupidez? Uma mistura de tudo isso? Provavelmente. É preciso ser muito vazio de moral e inteligência para espalhar pânico gratuito por fins de diversão.

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Mas além do puxão de orelha aos que espalham notícias falsas, que fique uma lição a quem recebe a informação: não acredite em tudo o que você lê online; qualquer pessoa pode lançar uma notícia bombástica, e quanto mais trágica ou quente for, mais rápido se espalha. As armadilhas da internet não escolhem vítimas, ninguém está imune, então cuidado com o que você acredita.

Maya Falks é escritora, publicitária e roteirista. Contista premiada, é editora de blog homônimo e apaixonada por literatura, música, cinema e propaganda, sendo devotada às palavras em suas mais diversas manifestações.

Contato: maya.tribos@gmail.com

Blog: www.mayafalks.blogspot.com

 

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