O sol e a peneira

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No último Fantástico, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu a descriminalização da maconha no Brasil. Jogamos a toalha na guerra contra o consumo de drogas, e digo com toda a honestidade: já estava na hora de parar de tapar o sol com a peneira.

Não sou a favor do livre consumo, jamais serei e nada nesse mundo vai mudar minha opinião que simplesmente liberar tudo não é a solução, nem acho que legalizar drogas de menor poder nocivo como a maconha seja o termo ideal, mas descriminalizar já é algo que representa um passo importante rumo ao fim da hipocrisia histórica que ronda nosso planeta.

"Não sou a favor do livre consumo, jamais serei e nada nesse mundo vai mudar minha opinião " (Foto: Divulgação)

Vejamos o caso: criminalizar o uso de entorpecentes diminuiu o consumo? Não. Exatamente o contrário; criou toda uma rede criminosa que colocou traficantes de drogas como monarcas, poderosos, decisores de vida e morte, fortemente armados e sem um pingo de preocupação com a ilegalidade do seu comércio.

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Temos em qualquer mercado o cigarro de nicotina e as mais diversas variedades de bebida alcoólica; ninguém estranha uma pessoa fumando ou com uma latinha de cerveja na mão, ambos produtos são anunciados em comerciais às claras e as pessoas consomem normalmente, como consomem qualquer item de alimentação, e ambos são drogas. Tanto o cigarro quanto o álcool causam dependência, fazem mal à saúde e, no caso do álcool, provocam alterações comportamentais. Então… o que faz da maconha algo diferente?

Friso: não defendo o uso de maconha livremente, como jamais defendi o cigarro ou qualquer outra droga que seja, mas se a repressão é uma guerra perdida, está mesmo mais do que na hora de se pensar novas formas de combater o uso, e nenhuma delas deverá incluir ação policial, algemas e delegacias. Usar drogas é puramente uma demonstração de fragilidade emocional, falta de personalidade ou estupidez, e nenhuma dessas características é crime.

E aí voltamos ao mesmo tema de sempre: educação. Jovens com informação, conhecimento e expectativa de futuro não embarcam em comportamentos de risco, não querem ver seus projetos aniquilados por uma “viagem”; o consumo de drogas entra em mais um item entre os problemas que uma educação de qualidade poderia consertar em nosso país. Outro aspecto interessante são os exemplos, estamos carentes de bons exemplos, as novas gerações são compostas por filhos e netos de gerações desprovidas de limites, gerações que abandonavam paradigmas, velhos padrões morais de comportamento embarcando em uma liberdade ilusória; essas gerações não conseguiram transmitir para as seguintes uma boa noção de valores e nem impuseram limites.

O sol e a peneira (Foto: Divulgação)

Nunca é tarde demais para se quebrar tabus, e é admirável a atitude do nosso ex-presidente ao assumir que ele falhou, e seus antecessores também, e seus sucessores igualmente. Em uma guerra perdida, é sempre uma boa ideia repensar estratégias – a batalha na repressão do comércio e consumo de drogas pode estar perdida, mas ainda temos milhões de jovens que podem ser salvos, e é nisso que devemos aprender a nos focar.

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Maya Falks é escritora, publicitária e roteirista. Contista premiada, é editora de blog homônimo e apaixonada por literatura, música, cinema e propaganda, sendo devotada às palavras em suas mais diversas manifestações.

Contato: maya.tribos@gmail.com

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Blog: www.mayafalks.blogspot.com

Twitter: www.twitter.com/MayaFalks

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