Bandeira colorida

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Estamos em um período de grandes transformações na sociedade brasileira, e já não era sem tempo. Recentemente o Supremo Tribunal Federal aprovou por unanimidade o reconhecimento de união estável para casais homossexuais, garantindo a eles os mesmos direitos de um casal heterossexual. Somado a isso, o mundo inteiro, exceto países de cultura muito atrasada, inicia todo um movimento pelo respeito às diferenças, em especial com a campanha americana “It Get’s Better” (vai melhorar) na prevenção do suicídio entre jovens homossexuais.

Bandeira Colorida (foto: divulgação)

No Brasil demos um passo significativo rumo ao progresso em questões de cidadania, e certamente outros passos ainda virão. Eu, como defensora da causa LGBT, celebrei tal conquista torcendo para que a criminalização da homofobia e o casamento civil venham logo também. Entretanto, não tenho como deixar de comentar que toda grande vitória precisa ter um antagonista, aquele alguém cuja mente limitada tenta tirar o brilho da conquista. Em um caso tão polêmico como esse não poderia ser diferente, lamentável que tal atitude venha de um homem público, cujo salário é pago com o meu, com o seu dinheiro, e cuja função é fazer o bem para a sociedade, e não segregá-la.

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E foi desse “senhor de respeito” as duas maiores demonstrações de ignorância que testemunhei nos últimos tempos. Primeiro atacou o projeto do MEC de incentivar o respeito às diferenças, evitando situações traumáticas como o bullying; diz o nobre senhor que nosso governo pretende incentivar o homossexualismo. Além de uma visão simplista e limitada, ainda é estúpida por parte de alguém que deveria ter um senso crítico respeitável; um homossexual já nasce homossexual e não serão os ataques de pessoas baixas como esse senhor que mudarão isso, assim como um heterossexual não muda sua orientação por aprender na escola que todos merecem respeito. É a natureza de cada ser humano.

Nesse aspecto me coloco de exemplo; convivo com homossexuais há tempos, alguns de meus melhores amigos são gays, frequentei bares e boates específicas para esse grupo, participei de paradas, tive muitas oportunidade de me relacionar com outras mulheres, e não o fiz, simplesmente porque essa não é minha natureza. Respeitá-los, tratá-los como iguais – até porque de fato são – frequentar as mesmas festas, interagir com seus hábitos e levantar sua bandeira não mudou minha orientação, não me tornou menos heterossexual. Não existe nenhum motivo, nem social, nem científico e nem filosófico para colocar qualquer dose de verdade na afirmação burra que ensinar o respeito às diferenças pode criar uma geração de homossexuais. É uma hipótese tão absurda que poderia ser bom material para um humorístico de quinta categoria.

Já a segunda demonstração de ignorância deveria render condenação criminal a tal cidadão, que teve a audácia de aplicar acusações seríssimas sobre esse grupo de pessoas, cuja orientação nenhuma relação tem com a ação hedionda que esse senhor os acusa. Além de muito ofensivo, tais declarações são excessivamente perigosas, podendo agravar ainda mais os casos de violência homofóbica baseada em uma suposta defesa vazia e infundada ao grupo de pequenas pessoas que não corre nenhum, absolutamente nenhum tipo de risco em conviver com homossexuais.

Talvez seja o momento de o respeitável senhor e todos aqueles que o apoiam começar a direcionar seus discursos inflamados contra espancadores de mulheres, estupradores, comedores de criancinhas (os verdadeiros, no caso), bandidos e ladrões de dinheiro público e merenda escolar, com certeza com essa mudança de foco, esse homem público teria alguma utilidade real para nosso país que não apenas ser sustentado pelo dinheiro dos nossos impostos.

 

Maya Falks é escritora, publicitária e roteirista. Contista premiada, é editora de blog homônimo e apaixonada por literatura, música, cinema e propaganda, sendo devotada às palavras em suas mais diversas manifestações.

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Contato: maya.tribos@gmail.com

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